E mais uma barragem de rejeitos da mineração se
rompe em Minas Gerais. Nos últimos 14 anos inúmeras tragédias humanas e
ambientais foram registradas no Estado. Na cidade de Nova Lima em 2001; 2007 em
Miraí; 2014 em Itabirito e agora em 2015 no Município de Mariana. Dezenas de
pessoas mortas e feridas, perdas de inúmeras residências, carros e diversos
bens, criações e plantações perdidas e danos ambientais incalculáveis para a vegetação
e principalmente, os recursos hídricos. Durante as minhas aulas de impactos
ambientais no uso dos recursos hídricos, um dos assuntos abordados é o impacto
das atividades da mineração. E agora, infelizmente, mais este triste exemplo estarei
utilizando.
Muitos fatores precisam ser avaliados antes de distribuirmos
as responsabilidades por esta tragédia, mas uma coisa é certa: o dono da
barragem é responsável por ela e por todos os danos causados. Diversas informações
estão surgindo, desde problemas estruturais até o registro de abalos sísmicos
na região, os tremores de terra, mas de baixa intensidade, teoricamente, sem poder
para abalar as estruturas de um grande talude de barragem de rejeitos. E a
fiscalização? Foi ou não eficiente? Os peritos terão pela frente um grande
quebra cabeças para resolver. O certo é que dezenas, ou até mesmo, centenas de milhões
de metros cúbicos de rejeitos de mineração foram despejados nas cabeças dos
moradores de um pequeno distrito do Município de Mariana, impactando o pequeno
Rio do Carmo com previsão de contaminar o Rio Doce em toda a sua extensão, até
a foz, no Espírito Santo, impressionantes 800 quilômetros. O Rio Doce, além de apresentar uma redução histórica
na sua vazão por conta da seca no Vale do Rio Doce, agora recebe esta
impressionante carga de rejeitos. Quem disse que o que está ruim não pode
piorar?
A economia de Minas Gerais tem um de seus
tripés alicerçados na mineração. Falar em fechar as mineradoras é condenar o
Estado à falência. Mas, na contramão ambiental, a atividade é altamente
impactante, destruindo lençóis freáticos e artesianos, utilizando quantidades
absurdas de água nos seus processos, gerando grandes quantidades de resíduos,
principalmente os rejeitos líquidos.
Nestes grandes processos exploratórios dos
recursos naturais promovidos pelas mineradoras não cabe mais a geração e a deposição
destes resíduos da mesma forma que se fazia a mais de 70 anos. Os processos de exploração
evoluem, mas o descarte dos rejeitos não. Continuam com suas barragens de
rejeitos colocando em risco milhares de vidas e o meio ambiente.
Após estas inúmeras tragédias que citamos, está
na hora do Estado cobrar das empresas, pesquisas de reutilização e reaproveitamento
dos rejeitos. Os atuais modelos de disposição de rejeitos não deveriam mais ser
aceitos pelos órgãos ambientais. Esperamos que mais esta tragédia não fique no
esquecimento e que os nossos políticos discutam de forma séria e responsável
sobre o futuro dos rejeitos da mineração.
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